Em um Brasil que ainda engatinha rumo à equidade de oportunidades, o empreendedorismo feminino vem como um dos caminhos mais potentes de transformação. Em Montes Claros, Norte de Minas, essa potência tem rosto, voz e propósito. São mulheres que decidiram ocupar espaços, romper ciclos e transformar necessidade em impacto. De forma silenciosa ou ruidosa, elas vêm ressignificando o papel da mulher na economia — não como coadjuvante, mas como protagonista.
Segundo dados do Sebrae, as mulheres já são maioria entre os microempreendedores da região, mesmo com menos o a crédito, enfrentando jornadas duplas (ou triplas) e lidando com um sistema que não foi feito para elas. Ainda assim, fazem acontecer.
Do caos ao propósito: quando empreender é a única opção viável
Para muitas, empreender não foi escolha romântica. Foi sobrevivência. Mas a sobrevivência, nas mãos delas, virou missão. Foi assim com Catia Bazzarella, da Viva Leve, que viu sua própria restrição alimentar se transformar em solução para centenas de pessoas.
“Em 2013, fui diagnosticada com Doença Celíaca, intolerância à lactose e alergia à proteína do leite. As opções no mercado eram poucas e ruins. Comecei a criar minhas receitas por necessidade. Anos depois, percebi que outras pessoas também precisavam. Foi aí que nasceu o Viva Leve.”
Hoje, a empresa é referência em alimentação inclusiva e segura. E Catia segue motivada pelo impacto que causa:
“A alimentação saudável muda vidas. E eu sou grata por fazer parte dessa mudança.”

Da vocação ao negócio: quando amar o que faz vira estratégia
Em outros casos, o empreendedorismo nasce da junção entre paixão e oportunidade. Mariana Santos, fundadora da Laços Cerimonial, viu no setor de eventos um campo fértil para unir talento e renda.
“Comecei por gostar da área e enxergar uma chance de ganhar dinheiro com isso. Mas foi depois da pandemia, com a retomada do mercado, que decidi viver exclusivamente do cerimonial. E, apesar das burocracias e desafios, o amor pela profissão é o que me mantém firme.”

Negócio com alma e estrutura: quando mulheres assumem o comando
Mas nem sempre o sonho vem pronto. Às vezes, é preciso criá-lo do zero — e assumir o protagonismo com estratégia. Foi o que fez Cybelle Medrado, da Mecanicar, ao perceber que seu ritmo como funcionária não cabia mais na nova vida de mãe.
“Minha saúde mental começou a cobrar o preço. Meu marido já trabalhava com mecânica, mas sem estrutura. Juntei minha experiência à dele e transformamos conhecimento técnico em negócio.”
Hoje, Cybelle é gestora da empresa do setor automotivo — espaço ainda marcado por estereótipos masculinos. Ela encara esse mercado como plataforma de impacto social.
“Quero que o segmento seja valorizado. É uma profissão legítima, que pode transformar vidas, dar dignidade e perspectiva. E sim, tem espaço para mulheres — como profissionais, gestoras e consumidoras. Esse setor não tem gênero. Tem oportunidade.”

Mais do que empreendedoras, líderes de transformação
Essas histórias mostram que o empreendedorismo feminino no Norte de Minas é mais do que uma estatística crescente. É uma força em movimento. Uma revolução que acontece no silêncio das cozinhas adaptadas, nos bastidores dos eventos, nas oficinas mecânicas e nas ruas. Mulheres que trabalham com propósito, constroem com coragem e desafiam uma lógica que ainda insiste em subestimá-las. O feminino é forte, estratégico, coletivo e transformador.